Incompatibilidade da compreensão.

by Marcos Felipe on domingo, 14 de agosto de 2011


''Jovem drogado é morto a tiros'', assim enganava a manchete do jornal. Aquele pós-doutor em vida sem ter cursado uma universidade, com história desconhecida por aqueles que agora o condenavam sem se atentar pela sua sabedoria, onde um dia lhe mostrou os mistérios de vãs filosofias. Decaído em uma poça de sangue, como um delinquente sem eloquência, com seu passado ignorado e sua razão não refinada.

Tudo lhe abrangia e lhe confortava a mente, as injustiças mundanas jamais o entristeciam e nada lhe exigia desculpa, o jovem sabido das ideias, sem ter repetido nenhuma matéria do viver. Conhecia de Tchaikovsky ao batucar do vizinho, no descer da ladeira arrancava olhares. Sua atitude servil era de todos,com todos aqueles que lhe ensinavam,sendo o mais influente para os menores que lhe admiravam. Uma biografia imensurável, com anotações mil sobre aquilo que cercava e alegrava seus sentidos gnósticos. Seus livros, jamais publicados, pequenos pensamentos na agenda o recusaram de feitos. Conhecia as formas do viver, nas plantas e animais, sabia poções mágicas dos seus subversivos ancestrais. Sua escola era o caminhar e conhecer, a farmácia estava nos livros empoeirados sobre a estante de ferro, uma saúde intacta, diziam. Poucos eram aqueles que lhe compreendiam. A vizinhança por maus julgamentos o reprimia por suas vestes. Um emaranhado cabelo, camisa com tintas misturadas e longas calças de pano, traziam a humildade em sua personalidade. E ele ria dos que não reconhecia seu talento, dizia: ''amigo doutor, primeiro entenda suas ilusões''.Fome não lhe abatia, nobre herói alimentava-se de sua horta caseira. A virtuosa vida lhe entendia perfeitamente, e um lugar no pós-vida que lhe aguardava, estaria refugiado. O seu desapego muitas vezes custava caro, mas assim era feliz. Sem noites de autógrafos ou dias tediosos, a vida o observava, e era ela quem lhe contemplava.

Injustiça sempre indagou do mesmo, e fez uma longa reflexão, enxergou que ali não poderia semear o nefasto desentendimento. Então resolveu, ajudou os que lhe condenavam. Entregou das suas receitas místicas, algo que confortava e os fazia esquecer os seus erros. Logo esqueceram suas drogas, como a TV e o bar da esquina. Muitos donos de instituições ficaram enfurecidos ao perderem bons clientes, por causa daquele futuro indigente. E assim se foi. Umas rápidas negociações foram feitas para interromper o novo ciclo proposto de justiça. A revolução subjetiva virou manipulação em massa quando a informação foi lançada aos ventos, quando se noticiou na mídia,o efeito negativo de tal alterador de consciência. A população foi atacada por falsas informações, todos enfurecidos, pediram a morte daquele que deu redenção. Tinha algo que poucos tinham que era o senso de toda situação,logo a inveja se alastrou, bastou um momento, para retirar sua visão. Ele dobrava a esquina, quando avistou nas suas costas,dois pedestres calmamente andando pela sua sombra imaculada.

Foi um tiro certeiro, sem dó nem piedade, no lado esquerdo do peito. Em agoniante dor e preparação para sua pós-morte ele gritou: ''Tenham pena de si mesmo, malditos traficantes da maldade! ''. Após um suspiro, cerrou seus olhos. Os fotógrafos logo apareceram, revistaram os seus bolsos, e encontraram algo novo, até então desconhecido, por diversão experimentaram. Não conseguiram compreender aqueles novos entendimentos visuais assim denunciaram aos jornais que já aguardavam a morte do rapaz: Acerto de contas entre traficantes. Sua história foi esquecida em dias, talvez em semanas. Os que receberam a poção chegaram até lembrar e o adorar, mas aos poucos foram deturpando seu ensinamento, planejaram lucros, começaram a vender seus encantamentos, como um perigoso veneno.

conto enviado ao edital de literatura do PROEX.Não foi desta vez.

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